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EFEITOS ALEATÓRIOS

29 junho, 2011

AOS LOUCOS: HÁ LOUCOS!


(Por Lucivaldo Ferreira)

Me perdoe tu que, são,
postulas dons da sã loucura,
daquela cuja candura
beira o céu, a perfeição.
Não é, pois, minha intenção
cozer na mesma panela
tu, aquele ou aquela
que são loucos de verdade,
com aquele que por vaidade
se diz “São” da cidadela.

Que me perdoem os loucos
que, como eu, não agridem
só poetizam, transgridem
as leis que se aplicam a poucos.
Meus versos sujos e roucos,
lerdos, doidos de doer,
nascem tão sós pra dizer
que louco não tem maldade
quem faz medo, na verdade
é o louco pelo poder.

Aquele dragão tirano
que persegue o diferente,
que sofre nojo de gente
com seu delírio insano,
o néscio, provinciano
que se diz rei da razão,
que humilha a multidão
(sustento do seu reinado
corrompido, desvairado),
o santo da opressão.

Bicho louco assim, não dorme
traçando a nova maldade
a quem quer que, na cidade,
se oponha ou desconforme.
Com sua tara enorme
de ver-me um louco extinto
decerto dirá que minto
ou mandará me bater,
me obrigará a beber
cicuta com absinto.

Vai quebrando o juramento
o cão da boca espumante.
Contra artista, estudante,
doente em desalento,
o louco, mau, fraudulento
semideus da ignorância,
pra alimentar sua ganância
 mente, ameaça, reprime,
desconta com seu regime
os traumas que teve na infância.

O olho do matagal,
o ouvido da parede
é o louco lançando a rede
e enchendo seu vil bornal
de alvos para o punhal
de sua santa inquisição.
E haja perseguição
no lombo, boca e orelha
de toda negra ovelha
que ao lobo mau diz um não.

É um regime do “cão”
esse do sagrado hospício
que, beirando o precipício,
segue o louco beberrão
em sua alucinação
de tomar de assalto a terra
impingindo a “santa” guerra
a um rebanho que é de paz,
mas que, o que ele manda, faz...
se não fizer, ele berra.

Deus me livre que meu verso
caia nas mãos do malvado...
serei eu excomungado
ou banido do universo?
sim, sou louco, mas o inverso
daqueles loucos tiranos
que vivem traçando planos
de, a todos enlouquecer
e com seu jeito de ser
já nos causou tantos danos.

Valei-me, meu santo Erasmo
que elogiou a loucura,
essa amiga, irmã sem cura,
com engenho e com sarcasmo.
Livrai-me do vão marasmo
de ser normal nessa aldeia
que eu amo, mas que me odeia.
Faz-me luz na escuridão
mesmo que a louca mão
queira ocultar-me a candeia.

Triunfo, 28 de junho de 2011.

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