A fé que eu tinha, perdi!
Já não creio no ópio,
no veto, no voto, na bomba.
Não creio na pomba em tempos de paz,
Já não creio mais em dias de sol
depois da tormenta,
no lobo que apascenta,
nos filhos de pedra.
A fé, o restinho que eu tinha, roubaram!
Os maus conselheiros, os mentirosos,
os sem amor, os homens públicos,
os médiuns, os advogados, os médicos
que negociam com a cura
roubaram-me a fé e a brandura.
Perdi a fé no discurso, na ação planejada,
na estratégia, nas reuniões,
chavões, palavras de ordem,
siglas, armas, noticiários,
partidos, times de futebol.
Perdi a fé na moeda,
na qualidade do ar,
nos previsores do tempo,
na mudança das estações,
nas flores da primavera
que só nascem para fanar.
Perdi a fé na fábula, na flâmula,
na bula, na contra-indicação,
na receita do bolo, no lambedor,
nos remédios para ereção,
nas placas de contramão,
no grau da minha miopia,
no chá e no chato que vejo no espelho.
Perdi a fé em meu taco,
na minha terceira visão,
no poder da abstração, na ciência,
na religião que nem liga...
Não creio em magos,
filósofos, crentes, ateus.
Mas tudo há de passar,
todos esses passarão.
Saibam que ainda não
perdi a fé em Deus!
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