Naquela
serra, acolá
viveu um
certo devoto
que na
infância fez um voto
de nunca uma
missa faltar
E assim,
para assegurar
que no dia
derradeiro
cumprira seu
voto inteiro
pra cada
missa que andava
uma pedra
colocava
na loca do
juazeiro.
O pé de juá
ficava
bem na beira
do caminho
entre a
igreja e o morrinho
onde o beato
morava
Quando de lá
escutava
o sino tocar
ligeiro
ele era
sempre o primeiro
a chegar à
igrejinha
depois de
por a pedrinha
na loca do
juazeiro.
E assim, por
muitos anos
nenhuma
missa faltou
e a cada uma
contou
penitente e
sem enganos,
mas Deus
tinha outros planos
para o
carola altaneiro
e então num
mês de janeiro
uma provação
lhe aponta:
lhe impediu
de por a conta
na loca do
juazeiro.
Era domingo
e, na ida
para a
missa, no caminho
encontrou um
carneirinho
ferido e
quase sem vida,
interrompeu
a corrida
para acudir
o cordeiro
que lhe
tirou do roteiro
Não foi a
missa e, ao final,
não colocou
o calhau
na loca do
juazeiro.
Daquele dia
em diante
lhe pesava a
consciência.
Pela sua inconsequência,
quebrara o
voto no instante
que acudira
o ruminante
num gesto
santo e guerreiro
e hoje em
seu pardieiro
relembra o
dia infeliz
que não
botou, por um triz,
a pedra no
juazeiro.
Muitos anos
se passaram
e antes que
o céu o chamasse
pediu que
alguém espiasse
quantas
pedrinhas restaram
Ao juazeiro
rumaram
pra atender
o derradeiro
pedido
daquele obreiro
de vida
santa e sozinha
e contar
toda pedrinha
da loca do
juazeiro.
Chegando ao
pé do juá
meteram na
loca a mão,
vasculharam
o tronco, e não
sabiam como
explicar...
Voltaram a
procurar,
tatearam o
oco inteiro
e ninguém
naquele outeiro
entendeu o
que se via,
pois só uma
pedra havia
na loca do
juazeiro.
Como assim,
só havia uma
das pedras
que colocou?
Quem a loca
vasculhou
não achou
mais pedra alguma.
Mas não
faltara nenhuma
missa, a não
ser no janeiro
que foi
salvar o carneiro
e perdeu a
liturgia...
Só aquela
pedra havia
contado no
juazeiro.
Tinha
orgulho, o rezador
que nunca a
missa faltara,
mas para Deus só contara
justo aquela
que faltou.
Aquele gesto
de amor,
de socorrer
o cordeiro
foi o uno e
verdadeiro
sinal de sua
devoção
Era aquela
pedra então
da loca do
juazeiro.
Não valera
tanta andada
pra missa ou
pra procissão,
pois só a fé
sem ação
ao final não
vale nada.
Só conta pra
o camarada
o sacrifício
certeiro
de ser justo
e companheiro
neste mundo
de injustiça,
vale mais
que contar missa
na loca do
juazeiro.
Era o devoto
você...
Ou qualquer um,
até eu...
Se a
história aconteceu
não há quem
saiba dizer,
mas tentemos
aprender
co’a lição
do penitente
que a
soberba é inclemente
neste mundo
cativeiro
e a loca do
juazeiro
é o coração
da gente.
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