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EFEITOS ALEATÓRIOS

26 outubro, 2007

QUANDO RIO, RIO.

O rio dos mendigos (Canaletto, Giovanni Antonio Canale/1720-25 )



Por Lucivaldo Ferreira


Quando rio, é sem querer.
Tento conter, mas o riso me escorre
pelos cantos da boca
e suja minha roupa,
quebra minha quilha.

O meu sorriso é quase,
cheio de espaços vazios.
É desdentada engrenagem
oxidada, cortante, intermitente.
Meu sorriso é o instante
em que não sou.

Se rio, sem águas,
desértico
e todo deserto já foi rio.

Se rio, não é de janeiro,
é de agosto, rio do meu rosto
sóbrio e sombrio.

Se rio é de mim mesmo...
Rio a esmo...

Meu riso é o rio sem rédeas,
sem margens;
é fuzil amarelo e carmim
que atira risos de mim.

Se rio, triste veio,
charcos que trago na calma.

Se rio é assim:
quando riacho, tenro;
se mar, Morto;
se rio... Nilo.

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