Disse assim Louro, “O Rei dos Trocadilhos”:
no sertão, nem todo poeta rima.
Sei. Não faço nenhuma obra-prima,
só vãos versos sinceros e andarilhos,
sem prestígio e de motes estrapilhos,
sem nenhuma intenção de afrontar
a castiça poesia deste mar,
deste amar que é o rio dos cantadores.
Eu também sou do Pajeú das Flores,
também tenho as razões para cantar.
Só por que não imito os menestréis,
grandes mestres, poetas do sertão,
só por que não escrevo igual Cancão
Ninguém dá por meu verso um só réis,
nem aplausos, coroas, nem anéis,
mesmo assim sigo humilde a versejar.
Deixe, pois, o meu verso cru passar,
não o tenha com insulto ou desfavores.
Eu também sou do Pajeú das Flores,
também tenho as razões para cantar.
Sou da laia dos poetas libertos
indo na contramão deste pai rio.
Não o seu, mas o que me conduziu
à poesia sem regras em tons incertos.
Por que riem dos meus versos despertos?
Por que negam para mim um lugar
onde possa meu verso branquejar,
sendo o branco a mistura de mil cores?
Eu também sou do Pajeú das Flores,
também tenho as razões para cantar.
Sou poeta, mas não sei fazer repente
há quem diga que sequer faço poesia,
que minha métrica é quebrada, falha, fria,
que minha rima é pobre e incompetente,
que há em mim um sentimento que não sente,
falta arte, estudo, molho e pensar...
Inda assim faço meus versos, e apesar
de a mim teres por pequeno e sem valores
deixe eu ser do seu Pajeú das Flores,
dê-me, enfim, as razões para cantar.
Serra Talhada, 13/03/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário