Lá da serra
triunfense
Mas não me
julgue, não pense,
Não me
condene, nem venha
Com sua
língua ferrenha
Dizer que
sou um inculto
Sem modo e
sem atributo
Preste
atenção nesse fato
Só porque
moro no mato
Não pense que
eu sou matuto
Não gosto
muito de festas
Dessas que
tem na cidade
Mas por
curiosidade
Resolvi ir
uma destas
Estava um
frio das mulestas
Era o tempo
do inverno
Pode
escrever no caderno
O que agora
vou contar
Vi matuto
pra danar
Naquele
forró moderno
Botei um
terno novinho
E meu casaco
de lã
De
procedência alemã
Além da
calça de linho
Fiquei lá em
meu cantinho
Olhando jovens
passando
Era o
chuvisco torando
E o povo
quase despido
Eita, moda
sem sentido
Essa que
estavam usando
Os jovens
achando graça
Do meu
vestir demodê
E eu
tentando entender
Tanto
palhaço na praça
Deve ser uma
desgraça
Ser escravo
do modismo
Ter que
aderir ao nudismo
No frio e
achar bonito
E tome frio
no cambito
E agressão
ao organismo
Um rapaz
todo molhado
Riu do meu
terno e gravata
Ele com
blusa regata
E eu bem
agasalhado
Ele todo
afrescalhado
De calção
naquela chuva
E eu de bota
e de luva
Sendo tema
de chacota
Pobre
daquele idiota
Se achando o
mandachuva
Para evitar bate-boca
Do rapaz me
afastei
Foi quando
me deparei
Com outra cocóta
louca
Que me falou
quase rouca
Saia da
frente, matuto
Não rebati o
insulto
Pra mostrar
educação
Pois vim pra
festa e não
Participar
de um tumulto
Mas vou
falar da menina
Pois chamou
minha atenção
Sua triste
aparição
Bem no meio
neblina
Toda encolhida
e mofina
Mas vestindo
costa nua
Manquejando
pela rua
De salto no
calçamento
Se achando
um monumento
Na inocência
só sua
Mais incerta
que o destino
A saia que
ela vestia
Além da popa
se via
O coração e
o intestino
E aquelas
pernas, menino,
Roxas,
tortas e geladas
No freezer
das madrugadas
Eram picolés
sem gosto
Pra combinar
com seu rosto
E suas mãos
enrugadas
Sua blusa,
fino afã
Sem manga,
mas com decote
Que deixava
ver o dote
Dos seios
sem sutiã
E os peitos
da cidadã
Embora
murchos, acesos,
Com seu dois
biquinhos tesos
Das mamadas
do arrepio
Ia tremendo
de frio
Cruzando os
braços obesos
Nem pra
dançar o forró
Aquele traje
ajudava
Pois toda
vez que dançava
Seu tamanco
alto que só
Dava nas
pernas um nó
Então a
blusa caía
Ou o saiote
subia
Mostrando
mais que o balé
A embalagem
e até
A fina
mercadoria
Dou valor a
um decotado
E um buxinho
de fora
Mas tem o
canto, a hora
E o clima
apropriado
Se é verão,
vou danado
Ver as
mocinhas no poço
Mostrando o
umbigo e o dorso
Mas no
inverno é diferente
Aconselho francamente,
Roupa de
frio, seu moço.
Mas pra
seguir a tendência
E poder
compor a roda
Vale o que
reza a moda
Mesmo sem
inteligência
Não entendo
essa ciência
Fico até
estupefato
Quando me
chamam de pato
E esnobam
meu figurino
Dizem que é
desatino
De quem reside
no mato
Vestir uma minissaia
Pra seguir a
procissão
É tal qual
usar gibão
Pra
frequentar uma praia
Merece é
riso e vaia
Minirroupa
na frieza
Onde é que
fica a beleza
Da roupa
inadequada
Dessa moda
estropiada
Que me olha
com estranheza?
Se você
também já viu
N’alguma
festa ou lugar
Em um calor
de lascar
Alguém com
roupa de frio
Que o seu casaco
vestiu
Só pra
mostrar que é seu
Se no frio
também sofreu
Por pouca
roupa trazer
Então não
venha dizer
Que o matuto
sou eu.
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